APRESENTAÇÃO


Crônicas e poesias, inspirações de meu olhar sob o cotidiano, de autoria dos meus delírios confessos.

Meu olhar no reflexo da vida...

Boa leitura...

"Nada sou, senão passos nesta estrada da vida. Me banho no rio da vida, onde curo minhas intensas feridas. Eu canto a vida com muito encanto, sem medo do desencanto, eu vivo a vida e viver eu amo tanto... Sou um desencontro de acasos enganos."

"No compor do universo, sou apenas mais uma melodia, sou autoria de um compositor supremo... DEUS."

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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O MEU OLHAR SOBRE O NATAL


O MEU OLHAR SOBRE O NATAL.



Lembro-me bem de minha infância, minha mãe trabalhava na Loja até quase as 23 horas da véspera de Natal, as ruas da cidade estavam sempre lotadas de gente correndo atrás de presentes. Quando o comércio em alguma cidade do interior fechava já bem tarde na véspera, íamos eu, o meu irmão, a mãe e o meu pai, para o Sítio de meus Avós Juvenal e Iracy para nos reunirmos com toda a família.

Chegando à roça, ao cume da estrada que entrava no Sítio, meu pai tirava do porta malas uma caixa de foguete e o céu se enchia de estouros. Era como um memorial  ou ritual, e assim foi por anos. O tempo nos levou aqueles momentos na mais saudosa lembrança, quando reuníamos a família, havia ceia, e sempre os vizinhos se achegavam para comemorar o Natal. Houve épocas que se somava quase cento e cinquenta pessoas, dançávamos, comemorávamos com todo o amor e paz.

Nós, ainda crianças, corríamos pelo terreiro de terra, brincávamos de pique, amarelinha, cai no poço quem me tira, até as energias se esgotarem, e irmos dormir na esperança de algum presente surgir próximo ao chinelo ou às meias de nossa esperança de ganhar algum presente do Papai Noel.

Tempos depois, não há muito tempo, foi o primeiro Natal sem a minha Avó Iracy, reunimos como há muito tempo não fazíamos, já não era na roça, foi em um patrimônio do Município. Ao chegar da meia noite, nós tomamos a ceia, fizemos um círculo de mãos dadas, a cada reza ou oração, os olhos eram tomados por lágrimas de emoção e saudade...

Neste Natal, eu não sei como vai ser. Talvez passe na casa de algum amigo, certamente, poeta e emoção que eu sou, surgirá alguma lágrima e os meus pensamentos caminharam pelas feridas de meu coração. Haverá no meu peito uma oração e um pedido ao Menino Jesus de um Próximo Ano melhor, um agradecimento pelos momentos difíceis, pelo aprendizado.

Tudo mudou e já não nos reunimos com tanta frequência, já não dividimos os nossos sonhos e nem brincamos de pique. A vida e toda esta prisão do sistema em busca de dinheiro, estabilidade, nos levou o tempo que tínhamos para a família. Formamos ao longo dos anos as nossas próprias famílias e deixamos de ser uma grande família talvez. 

Neste Natal, eu não terei a presença de meu irmão, faz tempo que não o vejo, tempo que não conversamos, uma mágoa e desamor se instalaram entre nós dois, neste Natal não estarei na reunião de família, estarei distante, talvez refletindo sobre o Ano de 2012, sobre a minha vida. Este ano que passou foi uma superação de meus medos e do que me atormentava, foi um reinício de meus passos em busca da felicidade.

Por mais que adversidades aconteçam, alguns covardias, eu sei, que o meu Natal onde quer que eu esteja será um bom Natal, pois os meus olhos se olham para o Menino Jesus na manjedoura, ele nunca muda o seu trato conosco, sempre está batendo a porta da manjedoura de nossa coração, pedindo abrigo. O Menino Jesus, sempre está pronto a nos perdoar por nossos erros, sempre cheio de amor e paz para nós.

Talvez ele chore um pouco ao perceber que nós esquecemos um pouco dele no dia de seu nascimento, preocupamos mais em dar e receber presentes, do que abençoar aqueles que nos amam. Preocupamos mais com as bebidas, com os alimentos, do que com uma das datas mais especiais da humanidade, quando nasceu um Menino chamado Jesus, que deu a sua vida por nós.

Pensando nisso tudo, de forma saudosa, e refletindo os meus sentimentos e a vida de hoje diante o meu olhar, eu passo a escrever e levar para a minha textualização, o meu olhar sobre o  Natal:

É chegado mais um fim de ano, mais um Natal com as suas canções que deveriam renovar a paz e o amor em nós. Particularmente o Natal deixou de ser há muito tempo um momento que me cause alegria.

Cada vez mais, nossas cidades são mais violentas, a miséria e a fome imperam em nossas ruas e praças. Enquanto isso, pouco se ouve ou se vê falar do amor de Cristo Jesus e do Nascimento daquele que um dia deu a sua vida por nós.

Vemos pessoas comprando presentes, grandes e intensas campanhas publicitárias, e um consumo exagerado em prol de um capitalismo que nos aliena cada vez mais dentro de um plano de consumo que nos ilude uma sensação de felicidade.

Enquanto as nossas Prefeituras gasta milhões de recursos financeiros em ornamentações, crianças movidas pela desigualdade social correm pelas ruas com os seus olhos famintos, desejosas de um pão e esperançosas de ganhar ao menos uma bola de futebol velha e ou uma boneca usada, para então se sentirem parte do Natal.

Algumas famílias terão panetone e vinho a mesa, uma bela Ceia de Natal, cantaram alguma destas canções, louvaram, se embebedaram em algum vinho caro; enquanto outras nem mesmo terão um pão mofado a mesa.

Não vejo como sentir-me feliz no Natal, ao pensar sobre toda esta injustiça social, em pensar que enquanto estou a mesa tomado pelo calor de um vinho, muitos estão morrendo em uma esquina, se perdendo no caminho dos vícios e da miséria e fome.

Pergunto-me se todos nós não estamos cegos. Se nós realmente somos humanos.

O meu Feliz Natal é desejar que as bênçãos do Menino Jesus possam ungir de bênçãos aos aprisionados deste sistema louco que nos aliena, que possa libertarmos de nosso caos de existir em tanta desumanidade e desamor entre os seres humanos.

Que neste Natal, o bicho homem possa reencontrar aquela estrela que fica ao cume de uma árvore de Natal, e que esta estrela possa estar iluminando tão somente os corações da humanidade. Que possamos refletir sobre um ano de 2013 com mais amor entre os seres humanos, mais paz em nossas ruas, menos corrupção e sede de poder de nossos políticos, e mais amor e diálogo em favor da vida.

Que possamos amar cada defeito do próximo e aprender a compreender que somos imperfeitos. De que o abraço e o perdão é necessários para existir a paz. De que o diálogo é fundamental.

De que a vida nos dá o melhor dela quando damos o melhor de nós para a vida. E que só há uma chance de um mundo melhor no próximo ciclo se encerra, só uma chance de sobrevivermos aos tempos difíceis que se anunciam: Amar verdadeiramente uns aos outros.

UM FELIZ NATAL À TODOS... QUE A ESTRELA DO MENINO JESUS E UM ANO DE 2013 COM NOVAS ESPERANÇAS E SONHOS POSSA ILUMINAR O CORAÇÃO DE TODOS.


Por Luciano Guimarães de Freitas.
Poeta, Cineclubista, Produtor Cultural.

18 de Dezembro de 2012, Vitória - ES

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

AS BOAS LEMBRANÇAS QUE ME INSPIRAM...



AS BOAS LEMBRANÇAS QUE ME INSPIRAM...

(Uma homenagem aos amigos da Infância e Adolescência)

(à 8ª Série de 1998, da Escola São Francisco de Assis - Barra de São Francisco/ES)

 “As lembranças de minha vida, da minha infância querida que os tempos não trazem mais.”


Nestes dias profanos de tamanha desumanidade, presos neste sistema que nos domina e nos conduz ao caos do dia a dia e ao um diálogo tão distante dos ideais em que nos criamos. A um diálogo que se mantém na irracionalidade da carência de emoção e na distância dos seres humanos de si mesmos.

Eu saio correndo pela areia da praia, e sento solitário diante do mar. Grandeza infinita de azul balançante entre as águas diante de meu olhar, lá no infinito uma bela lua nasce namorando o sol que se põe.


Solitário por alguns minutos, meus pensamentos me conduzem ao retorno à minha casa, chegando eu me sento diante de minha cama e me tranco no quarto entre quatro paredes.



 Há duas estéticas que à mim atraem, uma delas é olhar pela janela enquanto o ônibus passeia pelas ruas e buscar perceber o existir diante de meus olhos: as pessoas que caminham na calçada, os carros, os prédios que crescem cada vez mais, as diversas peculiaridades e personalidades diante da janela, o mar e o infinito além da janela. A janela é um dos termos mais antigos, e de onde nasceu o conceito do cinema... Pessoas nas janelas do trem observando a imagem em movimento. Deste conceito surgiu a sétima arte.

Outra estética que me atrai muito é estar entre as quatro paredes de meu quarto. Por mais que pareça estar aprisionado, ali em um recanto tão meu, liberto-me para o imaginário e caminho por lugares distantes no mais profundo de minha alma. Deste caminhar pelo meu imaginário, eu vejo um amanhã no infinito onde os meus olhos não podem ver, mas que os meus sonhos e esperança são capazes de desenhar as mais belas paisagens da vida.

Entre as quatro paredes na nave de meu imaginário, eu caminho pelos caminhos dentro de mim, onde estão as paisagens mais belas da vida, onde nascem as lágrimas que irrigam ao meu mais sincero sorriso e onde brota a esperança e paz que alçam em mim revoluções infinitas de meu ser.

Solitário em meus pensamentos, eu caminho para o mais profundo de meu coração e retomo ao canto do quarto de minha alma em busca das lembranças de um tempo distante, da infância querida e da adolescência. Perco-me pensando deleitosamente em como estão os amigos daqueles bons tempos que se foram na mais saudosa lembrança.

Vejo-me caminhando pelas ruas da saudade e relembro alguns momentos que jamais foram abandonados pelas lembranças. Do tempo em que eu matava aula atrás da escola, do tempo em que apelido não era Bullying. Pois naquele tempo as nossas brincadeiras eram repletas de uma pureza que não existe mais nos tempos de hoje.

Certamente o tempo e a idade se encarregaram de algumas mudanças físicas, talvez alguns já tenham família, outros estejam por ai em busca de seus sonhos. Aquele tempo era um tempo em que a vida ainda nos permitia algumas peripécias e aventuras. Hoje com a idade, por vezes temos medo de nos aventurar, pois com a idade, a vida se torna mais real diante de nossos passos. Lembro dos campeonatos de futebol de botão, algumas festas, das revistas que alguns meninos sempre levavam para os outros amigos, e tantas outras descobertas que aconteciam naquele tempo. De nossos olhares da puberdade contemplando a beleza que amadurecia nas meninas, elas que nos arguiam grandes suspiros e as primeiras paixões da vida. Ainda, tudo era uma pureza que hoje não se encontra mais em nossos adolescentes.

Naquela época, ainda ouvíamos mais frequentemente Legião Urbana, Titãs e Caetano. 

Com o coração batendo saudoso eu caminho nas lembranças de meus passos pela estrada da vida. Contemplo cada detalhe do céu da existência e me reencontro nas constelações dos bons tempos, desde os primeiros passos pelo chão, até o futebol em que nunca eu fui tão bom, os embates com professores, brincadeiras e bate papos com amigos.

Hoje, quando o tempo me leva os cabelos e deixa em mim algumas cicatrizes e feridas... Nos momentos de lutas e batalhas, quando algumas vezes eu penso em desistir. São as boas lembranças e saudade dos verdadeiros amigos, que preenchem o meu coração de esperança e força para continuar lutando contra as adversidades da vida.

Lembrar-me dos amigos e dos tempos passados é recorrer aos importantes momentos de minha vida que deixaram a mais saudosa lembrança desde os tempos de criança, e a minha jornada pela adolescência.

Lembrar-me dos amigos daquele tempo, faz o meu coração bater emocionado. As lágrimas ousadas tomam a minha face, as mãos trêmulas buscam escrever algo, compor um poema, porém é difícil raciocinar diante de tanta emoção.

O tempo e o progresso, a vida corrida, acabam nos levando algumas referências e identidades. Não cheguei a velhice, mas a idade de três décadas de vida somada ao progresso da ansiedade e da sobrevivência, nos priva de muitas coisas, nos torna talvez subservientes ao algo mais prático, mais racional, a formação de seres humanos mais máquinas e menos humanos.

De minha infância lembro-me de meu pai me levando para o sítio e me apresentando aos amigos dele. Papai sempre dizia assim: Filho este é como seu fosse seu Tio, no momento em que papai não estiver, é a este amigo do papai que vai procurar. Era um tempo em que mantínhamos fortes laços de amizade, vivíamos em uma cidade no interior onde a época nos era possível ter raízes e valores sociais e familiares.

Sempre sonhei em dizer as mesmas palavras para os meus filhos, aquele é amigo de papai... Caminhar com minha família e contar do quanto foi bom às amizades nos bons tempos que não voltam mais. Eu moro em um apartamento há anos, não conheço vizinhos, o bom dia sai sempre automático como uma obrigação. 

Ás vezes choro ou me espanto quando vejo o nosso interior tomado pela violência, com tanta desigualdade e injustiça social, e pranteio quando percebo a nossa juventude perder a sua identidade e ser tão passiva diante das transformações que tem ocorrido em nossas pequenas cidades.

Quisera a vida e pudera Deus que fosse possível sempre o encontro com os verdadeiros amigos e morarmos mais perto um do outro. Quisera Deus que o nosso interior parasse no tempo e não tivesse tanto desamor e desumanidade se desenvolvendo e disseminando o extermínio de nossos jovens.

Nestes dias atuais, eu encontrei pela Rede Social, o Facebook,  um Grupo chamado Encontrão, é um grupo criado com objetivo maior de promover um encontro de amigos que estudaram na adolescência.

Eu estudei com aquela turma da 8ª série de  1998, na Escola São Francisco de Assis, em Barra de São Francisco. Eu vinha de uma reprovação no ano de 1997, um ano que foi muito difícil para mim pelo divórcio de meus pais. Aquela turma não sabe, mas me senti acolhido e bem recebido com imenso carinho. Tal acolhimento me levou a ter um bom ano escolar e marcou um momento importante de minha vida.

Tenho algumas lembranças daquela época, entre algumas que até hoje me fazem sorrir, lembro da Micheline, professora de português, que era uma professora bem atraente. Lembro das vezes em que eu discuti com os professores, defendendo algo que eu acreditava. Quem não se lembra da Zilma, Professora de História, da Elinete de Matemática e do Júnior Borém Professor de Educação Física, e da nossa Coordenadora, a Tia Zilene.

Foi com surpresa que me deparei com o Grupo Encontrão, e também com muita felicidade em poder rever pessoas que foram tão importantes em minha vida, pessoas que deixaram saudade e boas lembranças.

Quando olho e verifico datas, me assusto um pouco. É estranho perceber que já se passaram 14 anos.

 Eu sempre fui muito contestador, e nos momentos em que eu achava estar certo, não tinha medo de debater ou discutir, fosse com algum professor ou com a Diretora. E foi mesmo assim, que eu deixei no início do quarto bimestre aquela turma de 1998.

Em um momento eufórico, discuti, debati com a Direção da Escola, e desci o morro da Escola aos gritos e exclamações. Em defesa do que eu acreditava. Tomei as malas do destino e segui em busca de outros ares, experiências e novos amigos. Vale contar que hoje tenho profundo respeito e admiração pela Diretora da Escola naquela época.

Tínhamos acabado de classificar a Escola, nos Jogos Estaduais da Rede Pitágoras, e íamos jogar a fase nacional em Belo Horizonte, como eu queria ter ido naquela viagem, lembro-me que eu era goleiro de handbol. Inspirado naquela época, cheguei a ser professor de educação física e ter uma escolinha de handbol.

Os meus amigos daquela turma de 1998, não sabem mesmo a saudade que eu levei no meu peito, e como em alguns momentos eu me arrependi de ter descido aquele morro. Em muitos momentos de minha vida, nas batalhas constantes pelas vielas da existência, desejei muito não ter descido aquele morro e deixado a minha turma da 8ª série para trás. Tão embora, eu tenha aprendido que Deus tem algo traçado para nós, que a vida nos remete as nossas escolhas, e assim a vida foi a minha maior escola. E nos meus passos pela existência, trouxe comigo alguns aprendizados, faculdades do saber de arriscar outros passos e novas ideias e pensamentos.

Hoje sou grato a Deus por tudo que fez em minha vida, e por tudo que tem feito em mim. Hoje eu tenho orgulho de quem eu sou, não tenho vergonha do que fui. Do que fui, tive um pouco de medo... Eu acredito veemente que eu sou um milagre, um milagre de Deus em minha família.

Hoje, sou um homem formado, não sou mais aquele adolescente um tanto impulsivo. Mas a personalidade contestadora continua em mim. Porém um tanto mais amadurecida. Atuo com movimentos sociais, renasço de momentos incertos de minha vida profana e caminho em defesa da vida e por uma cultura de paz. 


Continuo a escrever poemas, acreditando muito em um dos maiores poetas vivos, que disse: “A arte transforma a pessoa e as pessoas transformam o país”. (Ferreira Gullar)

Atualmente, estou me preparando para retornar a morar na Região Noroeste do Espírito Santo, onde daremos início a criação de uma Coletivo Jovem nos Municípios para atuarem em defesa da cultura e contra a violência que tem se espalhado pelo interior do Estado.

Sinto saudades daquele 1998. Sinto saudades dos amigos... E quando me sinto perdido no tempo e espaço desta existência, eu procuro no mais íntimo de mim, as boas lembranças daquele tempo e dos bons e saudosos momentos.

Ah, se os amigos soubessem, o quanto descer aquele morro marcou a minha vida... Saudade de vê-los, abraça-los e dizer a eles o quanto todos foram especiais e marcaram a minha vida.

Eu fico meus prezados leitores, contando cada milésimo de segundo para poder encontrar aquela turma da 8ª série de 1998, tempos bons, boas histórias a se relembrar. Tão logo ás águas de março chegaram, quem dera se ao som de Elis Regina...

São as boas lembranças e bons momentos que me inspiram cada passo e batalha, quando nesta vida alçam os canhões, meu corpo e as minhas feridas levantam uma voz que grita alto, grita o meu amor pela vida e meu intenso desejo de viver sempre.

Quando alçam os canhões
Eu tomo a minha armadura
Trago na face minhas desilusões e ilusões
E o sangue de minha loucura.

Corro pelos campos de meu coração
E sangro os meus mais intensos delírios
Eu rompo as grades de minha solidão
E corro pelos campos de lírios.

Trago no peito minhas feridas...
E muita esperança no olhar,
Nos meus passos por esta vida
Eu aprendi a jamais desistir de sonhar.

Aprendi correr pela saudade
E caminhar pelas boas lembranças
Trago no peito, as saudosas amizades...
Da Adolescência e dos tempos de criança.

Ah, foram bons tempos
De uma bela e serena canção
Tempos que não ficaram no esquecimento
Aqui, estão guardados no mais profundo de meu coração.

São estes momentos
A minha eterna inspiração
Eles acariciam a minha face como os ventos
São as boas lembranças dos amigos, que faz bater o meu coração.

Tomo o caminho da vida diante do meu olhar
Sigo sem medo de olhar para trás...
No meu peito está a pulsar
A saudades dos amigos e dos bons tempos, que não voltam mais...



“Olhar apenas por olhar é como olhar e não ver nada. É como estar sempre no escuro.”





Por Luciano Guimarães de Freitas.
Poeta, Cineclubista
Agente Cultura Jovem.



Vitória- ES, 08 de dezembro de 2012.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

CINECLUBISMO E CULTURA




UM FINAL DE SEMANA DE CINECLUBISMO E CULTURA NO ESPÍRITO SANTO.




Milito no Movimento Cineclubismo desde 2004, quando eu participei de minha primeira Jornada Nacional de Cineclubes, na época, realizada na cidade de São Paulo/SP. Era histórica 25ª Jornada Nacional de Cineclubes, realizada diante um processo de debate intenso e rearticulação do movimento nacional de cineclubes. Éramos no momento, nove cineclubes representando o Estado do Espírito Santo, entre estes nove cineclubes, eu representava o único cineclube do interior do Estado do Espírito Santo.

Ainda sobre a 25ª Jornada, ela foi realizada ali... Bem próximo a Esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João, e foi ali, como cantou o baiano Caetano Veloso, que “alguma coisa aconteceu em meu coração”. Ali, eu me apaixonei, eu amei, e a partir daquele momento eu não saberia mais viver sem o cineclubismo.

Certamente, hoje, alguns se assustam com a forma enquanto militamos, buscando a maior intensidade possível de envolvimento com o cineclubismo. E é até complexo discorrer sobre esta relação nossa com o cineclubismo. Apenas posso definir que, cineclubismo é a minha vida, é a minha filosofia de vida, isto porque, eu vivo o cineclubismo todos os segundos de minha vida, e foi o cineclubismo que me sustentou psicologicamente e emocionalmente, nos piores e mais difíceis momentos de minha vida. No cineclube, eu abrir o meu olhar para paisagens cujo eu jamais havia ousado ou tido oportunidade de enxergar, e diante toda esta paixão, eu sigo por ai, visitando as regiões, conversando sobre cineclube e incentivando a criação e o desenvolvimento do cineclubismo.

Da última semana que passou até o dia de hoje, vivenciei três experiências bem diferenciadas, mas muito ricas, em relação ao cineclubismo.

A primeira; visitei no meio da semana passada o Cineclube da ABD, quando podemos assistir entre tantos filmes capixabas, o filme Estradas Silvestres, de Ricardo Sá, por si, o filme já é de uma estética e fotografia muito rica e de beleza imensurável. Mas o mais interessante foi conhecer sobre outras culturas ricas em suas diversidades e quanto à formação e criação de suas crianças. É curioso que nós em nossa educação, aprendemos sobre os átomos e organismos que jamais ou raramente iremos ver, e por outro lado, sabemos tão pouco de nossa história, e vemos tão pouco de nossa cultura. Isto explica talvez a perca de nossas referências, o grande buraco falho em nossa formação. O Cineclube da ABD, também retoma as suas atividades enraizando novamente uma atividade cineclubista dentro da Universidade Federal do Espírito Santo, promovido pela Associação Brasileira de Documentarista e Curta Metragistas, traz entre os principais membros que atuam nele, um cineclubista histórico do Movimento Capixaba de Cineclubes, Marcos Valério Guimarães, que atua no Movimento Estadual de Cineclubes há mais de 20 anos.

Segunda; foi participar do 1º Curta Colorado, que foi uma mostra de filmes da Produção Independente Capixaba, promovida pelo Cineclube Colorado, a mostra recebeu grande destaque na mídia impressa do Estado. O Cineclube Colorado possui três anos existência, e eu tive a honra de participar de sua criação, compondo o quadro de Sócios Fundadores do Cineclube. No entanto, ressalto que apenas participei da fundação deste cineclube, e claro, sempre me mantive a disposição quando necessário a alguma orientação e apoio. Mas o cineclube existe graças a dedicação contínua e intensa, dos cineclubistas Fábio Gama, Alex Siqueira e Juliana Gama. O Cineclube Colorado, cumpri um papel fascinante que é a volta do cinema no bar, exibindo filmes nos fundos do Bar do Pantera, um local apropriado para quem gosta de música, cultura, cinema e uma boa cerveja gelada. O Cineclube Colorado é um dos cineclubes que mais orgulho-me de ter participado de sua fundação, sendo ele um dos cineclubes mais atuante do Estado do Espírito Santo.

A terceira e última; foi presenciar a realização do Seminário de Comunicação da “Não Violência contra a Mulher”, organizado pelo Cineclube Olho da Rua e Centro de Comunicação Popular Olho da Rua, através do projeto aprovado no Fundo Estadual da Cultura, no Edital da Diversidade Cultural. O Cineclube Olho da Rua reúne em seu bojo, com jovens comunicadoras que para além do cineclubismo e da comunicação, são atuantes em diversos movimentos sociais, entre eles, o Movimento Negro e o Movimento contra a violência contra mulher, e outros. É um cineclube que se diferencia na formação e luta contra as problemáticas sociais e em defesa de uma debate amplo e diverso sobre o desenvolvimento humano. Em especial, gostaria de discorrer sobre a nossa participação no Seminário.

Primeiro é necessário que eu diga, nunca ou pouco refleti até o momento sobre a questão da mulher, do machismo, a violência contra mulher, e nunca tinha me inserido no debate de gênero. Não por não  ter interesse nos temas, mas talvez por falta de oportunidade ou falta de informação. E dai, durante o Seminário, passei a me perguntar o “porque eu ainda não havia participado de tal debate”, sendo eu uma pessoa atuante na cultura no desenvolvimento do senso crítico. Talvez pela pouca exposição da verdadeira realidade na mídia, ou mesmo, pelo processo de indução e alienação de como a mídia nos monopoliza e controla. Ali, tive acesso às diversos dados da violência contra a mulher, e passei a refletir sobre diversas questões.

O que mais me assustou foi descobrir que o Estado do Espírito Santo está em primeiro lugar no mapa da violência contra a mulher, e que, entre a faixa etária que sofrem mais com o homicídio de mulheres, está em média dos 15 aos 29 anos. Passei a questionar-me se este dado era muito distante da minha realidade, e como seria aplicação a estes dados no interior do Estado do Espírito Santo. Isto porque, eu venho de uma região onde dos sete municípios que a compõe, três deles são um dos que mais desenvolveram as suas taxas de homicídio nos últimos anos, e entre eles, um mantém um dos piores índices de desenvolvimento humano do Estado. Isto por diversos motivos, mas é importante destacar a interiorização da violência no Estado do Espírito Santo, e isto, por diversos motivos, os quais fugindo do assunto, eu atribuo em muito a Política do Governo do Estado, na interiorização dos Presídios. O preso executa o crime na capital e é conduzido a cumprir sua sentença no interior do Estado, e por consequência muda de cidade para ficar mais próximo, a família do preso. Não digo isto com relação de preconceito a família, mas digo isto, em relação de que o Estado não fornece de forma justa e equivalente aos Municípios ações que possam conter os impactos sociais de se ter uma presídio estadual nas pequenas cidades do interior do Estado. As famílias se mudam, acabam indo morar em lugares sem estrutura, e isto vai contribuindo para o surgimento de áreas de riscos, dali, como de outros lugares em diversos segmentos da sociedade, deriva-se em parte, o nascimento crescente da violência e aumento dos homicídios no interior do Espírito Santo. É importante ainda ressaltar, que entre as Regiões do Estado do Espírito Santo, a Região Noroeste, Norte e Nordeste do Espírito Santo, são as regiões que mais tem sofrido com esta política desenvolvida pelo Estado, quando sabemos nós, que o sistema carcerário no Brasil e em específico no Estado, raramente recupera alguém, ressociabiliza, sendo assim, uma grande escola do crime e preparo para a violência.

Baseado nestas proposições arguidas, eu enquanto participava do Seminário de Comunicação da “Não violência contra as mulheres”, pensava em como seria a projeção dos dados que eu já conheço quanto aos Municípios de Água Doce do Norte, Barra de São Francisco, Águia Branca, São Gabriel da Palha, Ecoporanga, Nova Venécia, e outros; se projetássemos a pesquisa nos homicídios de mulheres e violência contra as mulheres, se chegaríamos aos mesmos índices projetados durante o seminário. Enfim, fato é que a incidência de homicídios na faixa etária dos 15 aos 29 é o extermínio de nossos jovens ou nossas jovens, e o assassinato de nossas futuras gerações. Pois se não cuidarmos de nossa geração, não haverá futuras.

Denuncio ainda, que há muitos dados quanto ao interior do Estado, não revelados ou divulgados. Por diversos fatores, e entre os principais é o envolvimento de pessoas que possuem forte poder aquisitivo, influências políticas, e ou o envolvimento de algumas autoridades e poderes, e em alguns casos, em específico, na atuação da prostituição infantil.

Por outro lado, se pensarmos que na Capital já tenha alguma falha ou muitos equívocos quanto a boa gestão do Estado das Delegacias das Mulheres, no interior ainda padecemos de ter mais Delegacias especializadas para as mulheres. Da mesma forma, de que padecemos de não termos no Estado do  Espírito Santo, um departamento específico da mulher.

Eu espero poder, me aprofundar mais neste debate da violência contra mulher, mas certo eu, sou para além deste tema, contra toda e qualquer violência. Seja contra a mulher, seja pelo abuso de poder e autoridade de muitos policiais militares, seja contra a criança, sou contra toda ação de violência. Mas em especial, gostaria de parabenizar o Centro de Comunicação Popular Olho da Rua e ao Cineclube Olho da Rua pelo Seminário proposto, pelos temas abordados. É nestas ações aliado ao cineclubismo que eu acredito, pois mesmo não achando que a cultura será a salvação suprema, é através do desenvolvimento cultural, de uma nova formação cultural, que eu acredito, poderemos mudar muitas coisas em nosso Estado e País. A cultura é um pilar central e um caldo para diversas mudanças de comportamentos e na formação de nossas gerações. Promova o Estado o acesso a cultura sem achar que cultura é um mero entretenimento, o acesso a formação cultura sem achar que o Espírito Santo é só muqueca capixaba, a democratização do acesso e a descentralização do fomento aos incentivos financeiros à cultura, levando para as mais extremas regiões o desenvolvimento cultural.

Eu acredito que o cineclubismo pode ricamente contribuir para a formação de um novo olhar diante as nossas realidades, por seu potencial de fomento do debate, pela riqueza do diálogo que o cineclube promove. Isto é o que mais me comove e me provoca a atuar no cineclubismo.

E quando, eu penso em desanimar, ou estou desanimado em militar ou mesmo chateado com os embates políticos do movimento. Eu me jogo por ai, a visitar os cineclubes, conhecer as suas realidades. E quando me deparo com ações como as que eu encontrei durantes estes dias, diante de uma efervescência cultural, eu renovo as minhas forças, a minha fé, e retorno ao mais profundo do meu coração, eu preciso continuar acreditando que podemos fazer algo e muito mais, pela força de nosso movimento, e diante de tantos impactos sociais e audiovisuais, acredito que já não somos apenas um movimento social inerente ao audiovisual, mas que somos um movimento político que através do audiovisual, podemos elencar e formar pessoas para as tantas lutas e batalhas para um mundo e uma sociedade melhor.

Não há muito tempo, eu ouvi de um jovem morador de uma favela no interior do Estado o seguinte comentário: _ Rapaz, está vendo estes barracos de madeira vazios, era famílias que ganharam do Governo uma casa nova, ditas casas populares. Eu não ganhei porque moro só. No entanto quando é chegada à época das eleições, eu sou lembrado assim como estes que aqui moravam. Agora pense comigo, o Estado só chega aqui em nossa comunidade através da Polícia Militar para bater, eu cresço e moro aqui, mas não tenho oportunidade emprego porque moro na favela, não tenho oportunidade educação, não acesso as oportunidades. O que você acha que eu vou ser? Sou tratado como um animal pela sociedade. Então, acha que vou ser um dia algum Estudante, algum Médico, algum doutor. Jamais! Porém, todos nós que moramos aqui, sonhamos e temos esperança, mas a nossa esperança é exterminada pelo sistema.

“Por uma cultura de paz...”
“Por um diálogo entre os homens e as mulheres com a vida”.
“Pelo respeito ao ser humano, pela humanidade social,  e contra as injustiças.”
“Acreditando no cineclubismo capixaba.”
Por Luciano Guimarães de Freitas.
Cineclubista, Poeta, Produtor Cultural.
Titular Representante da Região Noroeste na Comissão Organizadora do Plano Estadual de Cultura.
Produtor do Projeto Olhares – Perspectiva para o Desenvolvimento.


Vitória - ES, 03 de dezembro de 2012.