O MEU OLHAR SOBRE O NATAL.
Lembro-me bem de minha infância, minha mãe trabalhava na Loja até quase
as 23 horas da véspera de Natal, as ruas da cidade estavam sempre lotadas de
gente correndo atrás de presentes. Quando o comércio em alguma cidade do
interior fechava já bem tarde na véspera, íamos eu, o meu irmão, a mãe e o meu pai, para o Sítio de
meus Avós Juvenal e Iracy para nos reunirmos com toda a família.
Chegando à roça, ao cume da estrada que entrava no Sítio, meu pai
tirava do porta malas uma caixa de foguete e o céu se enchia de estouros. Era
como um memorial ou ritual, e assim foi
por anos. O tempo nos levou aqueles momentos na mais saudosa lembrança, quando
reuníamos a família, havia ceia, e sempre os vizinhos se achegavam para
comemorar o Natal. Houve épocas que se somava quase cento e cinquenta pessoas,
dançávamos, comemorávamos com todo o amor e paz.
Nós, ainda crianças, corríamos pelo terreiro de terra, brincávamos de
pique, amarelinha, cai no poço quem me tira, até as energias se esgotarem, e
irmos dormir na esperança de algum presente surgir próximo ao chinelo ou às
meias de nossa esperança de ganhar algum presente do Papai Noel.
Tempos depois, não há muito tempo, foi o primeiro Natal sem a minha Avó
Iracy, reunimos como há muito tempo não fazíamos, já não era na roça, foi em um
patrimônio do Município. Ao chegar da meia noite, nós tomamos a ceia, fizemos
um círculo de mãos dadas, a cada reza ou oração, os olhos eram tomados por
lágrimas de emoção e saudade...
Neste Natal, eu não sei como vai ser. Talvez passe na casa de algum
amigo, certamente, poeta e emoção que eu sou, surgirá alguma lágrima e os meus
pensamentos caminharam pelas feridas de meu coração. Haverá no meu peito uma
oração e um pedido ao Menino Jesus de um Próximo Ano melhor, um agradecimento
pelos momentos difíceis, pelo aprendizado.
Tudo mudou e já não nos reunimos com tanta frequência, já não dividimos
os nossos sonhos e nem brincamos de pique. A vida e toda esta prisão do sistema
em busca de dinheiro, estabilidade, nos levou o tempo que tínhamos para a
família. Formamos ao longo dos anos as nossas próprias famílias e deixamos de ser uma
grande família talvez.
Neste Natal, eu não terei a presença de meu irmão, faz
tempo que não o vejo, tempo que não conversamos, uma mágoa e desamor se
instalaram entre nós dois, neste Natal não estarei na reunião de família,
estarei distante, talvez refletindo sobre o Ano de 2012, sobre a minha vida.
Este ano que passou foi uma superação de meus medos e do que me atormentava,
foi um reinício de meus passos em busca da felicidade.
Por mais que adversidades aconteçam, alguns covardias, eu sei, que o meu Natal onde quer que eu esteja será um bom Natal, pois os meus olhos se olham para o Menino Jesus na manjedoura, ele nunca muda o seu trato conosco, sempre está batendo a porta da manjedoura de nossa coração, pedindo abrigo. O Menino Jesus, sempre está pronto a nos perdoar por nossos erros, sempre cheio de amor e paz para nós.
Talvez ele chore um pouco ao perceber que nós esquecemos um pouco dele no dia de seu nascimento, preocupamos mais em dar e receber presentes, do que abençoar aqueles que nos amam. Preocupamos mais com as bebidas, com os alimentos, do que com uma das datas mais especiais da humanidade, quando nasceu um Menino chamado Jesus, que deu a sua vida por nós.
Pensando nisso tudo, de forma saudosa, e refletindo os meus sentimentos e a vida de hoje diante o meu olhar, eu passo a escrever e levar para a minha textualização, o meu olhar sobre o Natal:
É chegado mais um fim de ano,
mais um Natal com as suas canções que deveriam renovar a paz e o amor em nós.
Particularmente o Natal deixou de ser há muito tempo um momento que me cause
alegria.
Cada vez mais, nossas cidades são
mais violentas, a miséria e a fome imperam em nossas ruas e praças. Enquanto
isso, pouco se ouve ou se vê falar do amor de Cristo Jesus e do Nascimento
daquele que um dia deu a sua vida por nós.
Vemos pessoas comprando
presentes, grandes e intensas campanhas publicitárias, e um consumo exagerado
em prol de um capitalismo que nos aliena cada vez mais dentro de um plano de
consumo que nos ilude uma sensação de felicidade.
Enquanto as nossas Prefeituras
gasta milhões de recursos financeiros em ornamentações, crianças movidas pela
desigualdade social correm pelas ruas com os seus olhos famintos, desejosas de
um pão e esperançosas de ganhar ao menos uma bola de futebol velha e ou uma
boneca usada, para então se sentirem parte do Natal.
Algumas famílias terão panetone e
vinho a mesa, uma bela Ceia de Natal, cantaram alguma destas canções, louvaram,
se embebedaram em algum vinho caro; enquanto outras nem mesmo terão um pão
mofado a mesa.
Não vejo como sentir-me feliz no
Natal, ao pensar sobre toda esta injustiça social, em pensar que enquanto estou
a mesa tomado pelo calor de um vinho, muitos estão morrendo em uma esquina, se
perdendo no caminho dos vícios e da miséria e fome.
Pergunto-me se todos nós não
estamos cegos. Se nós realmente somos humanos.
O meu Feliz Natal é desejar que
as bênçãos do Menino Jesus possam ungir de bênçãos aos aprisionados deste
sistema louco que nos aliena, que possa libertarmos de nosso caos de existir em
tanta desumanidade e desamor entre os seres humanos.
Que neste Natal, o bicho homem
possa reencontrar aquela estrela que fica ao cume de uma árvore de Natal, e que
esta estrela possa estar iluminando tão somente os corações da humanidade. Que
possamos refletir sobre um ano de 2013 com mais amor entre os seres humanos,
mais paz em nossas ruas, menos corrupção e sede de poder de nossos políticos, e
mais amor e diálogo em favor da vida.
Que possamos amar cada defeito do próximo e aprender a compreender que somos imperfeitos. De que o abraço e o perdão é necessários para existir a paz. De que o diálogo é fundamental.
De que a vida nos dá o melhor dela quando damos o melhor de nós para a vida. E que só há uma chance de um mundo melhor no próximo ciclo se encerra, só uma chance de sobrevivermos aos tempos difíceis que se anunciam: Amar verdadeiramente uns aos outros.
UM FELIZ NATAL À TODOS... QUE A ESTRELA DO MENINO JESUS E UM ANO DE 2013 COM NOVAS ESPERANÇAS E SONHOS POSSA ILUMINAR O CORAÇÃO DE TODOS.
Por Luciano Guimarães de Freitas.
Poeta, Cineclubista, Produtor Cultural.
18 de Dezembro de 2012, Vitória - ES