Saudoso tempo...
(Para os amigos de minha infância e das
descobertas de minha adolescência).
“Ah
que saudade que eu tenho, da minha infância querida.”
Eu
me pego olhando para o tempo, os minutos que passam como uma lâmina que nos
corta os dias em fragmentos de minutos.
E
o sol que tão logo nascera, foge com medo de amar a lua que vem vestida de seu
manto enegrecido iluminado por estrelas que contemplam os nossos passos no
caminho da vida...
Eu
me pego cheio de lembranças, um pouco de saudade, da infância querida, da
adolescência sutil, cheia da magia das descobertas, do olhar apaixonado pela
menina que nunca vai saber que eu sempre estive ali tão perto olhando.
Eu
trago na lembrança, até os apelidos, as gafes ditas, o pique esconde, e eu ali
no encontro perdido, talvez atrás do muro da vida, olhando o tempo passar...
Tempo
que até mesmo a mentira era uma sincera verdade, da felicidade que nos era
simplesmente viver. Quando olho aquele tempo passou e estando no tempo presente
do hoje que me devora, dá vontade de gritar que “éramos felizes e não
sabíamos”, dá vontade de pedir ao tempo para voltar, desejo ir agora, para o
tempo que passou...
Ah,
mas eu sei e todo poeta sabe; todos nós sabemos. Este desejo, este grito pelo
tempo, se chama saudade. São doces lembranças, do tempo da infância, da magia
de olhar com medo de que soubesse que eu estava ali olhando. Era sentido puro, do
desejo não pela carne, não pelo corpo, mas sim, a vontade da descoberta do
sabor de algum beijo, mas já bastava à mim, ver alguém sorrir. Bastava apenas à
mim, encontrar a amizade e o carinho, esta era a minha mentira que então
conseguia ser a mais sincera verdade.
Eu
me lembro dos encontros, dos amigos e do futebol de botão, de pegar as
escondidas o gabarito das provas, de corrermos por este tempo sem ao menos
perceber que ele passava...
Éramos
felizes, e possivelmente sabíamos, pois porque sabíamos era que aquele tempo
hoje é saudoso nas mais doces lembranças...
Eu
olho para o meu hoje, e hoje assim olhando, encontrei imagens nas lembranças do
tempo que não volta. Ah, quando penso naquele tempo, o sorriso me aparece e
fico ali deleitosamente caminhando por recordações, quando uma alegria me rompe
os grilhões de minha tristeza e preenche a minha solidão.
Penso
nos amigos e nas amigas, algumas delas jurei amar, mas existe mesmo maior amor
do que esta amizade de nunca se esquecer... Que os verdadeiros amigos sempre
estiveram aqui guardados nas mais saudosas lembranças, na mais calorosa
saudade, daquele tempo que passou para o tempo, mas que para nossa memória,
jamais poderá passar.
E
quando quero sorrir enquanto meus olhos choram, não preciso mesmo nem de fotos,
nem de canções, me basta apenas fechar os olhos e ver os amigos e à mim,
correndo pelo tempo e fazendo descobertas... Ah, a vida nos levou o levou o
nosso saudoso tempo, nos deixou cicatrizes na pele do coração, nos fez chorar e
sorrir e trouxe para alguns como eu, até mesmo um pouco de solidão... Mas tu,
oh vida! Jamais pode me levar, as boas lembranças daquele tempo, dos sorrisos e
da alegria, das tantas descobertas, de sentimentos e sentidos, que só hoje,
após tanto tempo, sou capaz de compreender na preciosidade da mais pura
saudade, saudade dos amigos e das amigas, saudade até mesmo de mim.
Por
Luciano Guimarães de Freitas.
Poeta,
Produtor Cultural.
Vitória/ES
– 03 de março de 2013.