APRESENTAÇÃO


Crônicas e poesias, inspirações de meu olhar sob o cotidiano, de autoria dos meus delírios confessos.

Meu olhar no reflexo da vida...

Boa leitura...

"Nada sou, senão passos nesta estrada da vida. Me banho no rio da vida, onde curo minhas intensas feridas. Eu canto a vida com muito encanto, sem medo do desencanto, eu vivo a vida e viver eu amo tanto... Sou um desencontro de acasos enganos."

"No compor do universo, sou apenas mais uma melodia, sou autoria de um compositor supremo... DEUS."

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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

CINECLUBISMO E CULTURA




UM FINAL DE SEMANA DE CINECLUBISMO E CULTURA NO ESPÍRITO SANTO.




Milito no Movimento Cineclubismo desde 2004, quando eu participei de minha primeira Jornada Nacional de Cineclubes, na época, realizada na cidade de São Paulo/SP. Era histórica 25ª Jornada Nacional de Cineclubes, realizada diante um processo de debate intenso e rearticulação do movimento nacional de cineclubes. Éramos no momento, nove cineclubes representando o Estado do Espírito Santo, entre estes nove cineclubes, eu representava o único cineclube do interior do Estado do Espírito Santo.

Ainda sobre a 25ª Jornada, ela foi realizada ali... Bem próximo a Esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João, e foi ali, como cantou o baiano Caetano Veloso, que “alguma coisa aconteceu em meu coração”. Ali, eu me apaixonei, eu amei, e a partir daquele momento eu não saberia mais viver sem o cineclubismo.

Certamente, hoje, alguns se assustam com a forma enquanto militamos, buscando a maior intensidade possível de envolvimento com o cineclubismo. E é até complexo discorrer sobre esta relação nossa com o cineclubismo. Apenas posso definir que, cineclubismo é a minha vida, é a minha filosofia de vida, isto porque, eu vivo o cineclubismo todos os segundos de minha vida, e foi o cineclubismo que me sustentou psicologicamente e emocionalmente, nos piores e mais difíceis momentos de minha vida. No cineclube, eu abrir o meu olhar para paisagens cujo eu jamais havia ousado ou tido oportunidade de enxergar, e diante toda esta paixão, eu sigo por ai, visitando as regiões, conversando sobre cineclube e incentivando a criação e o desenvolvimento do cineclubismo.

Da última semana que passou até o dia de hoje, vivenciei três experiências bem diferenciadas, mas muito ricas, em relação ao cineclubismo.

A primeira; visitei no meio da semana passada o Cineclube da ABD, quando podemos assistir entre tantos filmes capixabas, o filme Estradas Silvestres, de Ricardo Sá, por si, o filme já é de uma estética e fotografia muito rica e de beleza imensurável. Mas o mais interessante foi conhecer sobre outras culturas ricas em suas diversidades e quanto à formação e criação de suas crianças. É curioso que nós em nossa educação, aprendemos sobre os átomos e organismos que jamais ou raramente iremos ver, e por outro lado, sabemos tão pouco de nossa história, e vemos tão pouco de nossa cultura. Isto explica talvez a perca de nossas referências, o grande buraco falho em nossa formação. O Cineclube da ABD, também retoma as suas atividades enraizando novamente uma atividade cineclubista dentro da Universidade Federal do Espírito Santo, promovido pela Associação Brasileira de Documentarista e Curta Metragistas, traz entre os principais membros que atuam nele, um cineclubista histórico do Movimento Capixaba de Cineclubes, Marcos Valério Guimarães, que atua no Movimento Estadual de Cineclubes há mais de 20 anos.

Segunda; foi participar do 1º Curta Colorado, que foi uma mostra de filmes da Produção Independente Capixaba, promovida pelo Cineclube Colorado, a mostra recebeu grande destaque na mídia impressa do Estado. O Cineclube Colorado possui três anos existência, e eu tive a honra de participar de sua criação, compondo o quadro de Sócios Fundadores do Cineclube. No entanto, ressalto que apenas participei da fundação deste cineclube, e claro, sempre me mantive a disposição quando necessário a alguma orientação e apoio. Mas o cineclube existe graças a dedicação contínua e intensa, dos cineclubistas Fábio Gama, Alex Siqueira e Juliana Gama. O Cineclube Colorado, cumpri um papel fascinante que é a volta do cinema no bar, exibindo filmes nos fundos do Bar do Pantera, um local apropriado para quem gosta de música, cultura, cinema e uma boa cerveja gelada. O Cineclube Colorado é um dos cineclubes que mais orgulho-me de ter participado de sua fundação, sendo ele um dos cineclubes mais atuante do Estado do Espírito Santo.

A terceira e última; foi presenciar a realização do Seminário de Comunicação da “Não Violência contra a Mulher”, organizado pelo Cineclube Olho da Rua e Centro de Comunicação Popular Olho da Rua, através do projeto aprovado no Fundo Estadual da Cultura, no Edital da Diversidade Cultural. O Cineclube Olho da Rua reúne em seu bojo, com jovens comunicadoras que para além do cineclubismo e da comunicação, são atuantes em diversos movimentos sociais, entre eles, o Movimento Negro e o Movimento contra a violência contra mulher, e outros. É um cineclube que se diferencia na formação e luta contra as problemáticas sociais e em defesa de uma debate amplo e diverso sobre o desenvolvimento humano. Em especial, gostaria de discorrer sobre a nossa participação no Seminário.

Primeiro é necessário que eu diga, nunca ou pouco refleti até o momento sobre a questão da mulher, do machismo, a violência contra mulher, e nunca tinha me inserido no debate de gênero. Não por não  ter interesse nos temas, mas talvez por falta de oportunidade ou falta de informação. E dai, durante o Seminário, passei a me perguntar o “porque eu ainda não havia participado de tal debate”, sendo eu uma pessoa atuante na cultura no desenvolvimento do senso crítico. Talvez pela pouca exposição da verdadeira realidade na mídia, ou mesmo, pelo processo de indução e alienação de como a mídia nos monopoliza e controla. Ali, tive acesso às diversos dados da violência contra a mulher, e passei a refletir sobre diversas questões.

O que mais me assustou foi descobrir que o Estado do Espírito Santo está em primeiro lugar no mapa da violência contra a mulher, e que, entre a faixa etária que sofrem mais com o homicídio de mulheres, está em média dos 15 aos 29 anos. Passei a questionar-me se este dado era muito distante da minha realidade, e como seria aplicação a estes dados no interior do Estado do Espírito Santo. Isto porque, eu venho de uma região onde dos sete municípios que a compõe, três deles são um dos que mais desenvolveram as suas taxas de homicídio nos últimos anos, e entre eles, um mantém um dos piores índices de desenvolvimento humano do Estado. Isto por diversos motivos, mas é importante destacar a interiorização da violência no Estado do Espírito Santo, e isto, por diversos motivos, os quais fugindo do assunto, eu atribuo em muito a Política do Governo do Estado, na interiorização dos Presídios. O preso executa o crime na capital e é conduzido a cumprir sua sentença no interior do Estado, e por consequência muda de cidade para ficar mais próximo, a família do preso. Não digo isto com relação de preconceito a família, mas digo isto, em relação de que o Estado não fornece de forma justa e equivalente aos Municípios ações que possam conter os impactos sociais de se ter uma presídio estadual nas pequenas cidades do interior do Estado. As famílias se mudam, acabam indo morar em lugares sem estrutura, e isto vai contribuindo para o surgimento de áreas de riscos, dali, como de outros lugares em diversos segmentos da sociedade, deriva-se em parte, o nascimento crescente da violência e aumento dos homicídios no interior do Espírito Santo. É importante ainda ressaltar, que entre as Regiões do Estado do Espírito Santo, a Região Noroeste, Norte e Nordeste do Espírito Santo, são as regiões que mais tem sofrido com esta política desenvolvida pelo Estado, quando sabemos nós, que o sistema carcerário no Brasil e em específico no Estado, raramente recupera alguém, ressociabiliza, sendo assim, uma grande escola do crime e preparo para a violência.

Baseado nestas proposições arguidas, eu enquanto participava do Seminário de Comunicação da “Não violência contra as mulheres”, pensava em como seria a projeção dos dados que eu já conheço quanto aos Municípios de Água Doce do Norte, Barra de São Francisco, Águia Branca, São Gabriel da Palha, Ecoporanga, Nova Venécia, e outros; se projetássemos a pesquisa nos homicídios de mulheres e violência contra as mulheres, se chegaríamos aos mesmos índices projetados durante o seminário. Enfim, fato é que a incidência de homicídios na faixa etária dos 15 aos 29 é o extermínio de nossos jovens ou nossas jovens, e o assassinato de nossas futuras gerações. Pois se não cuidarmos de nossa geração, não haverá futuras.

Denuncio ainda, que há muitos dados quanto ao interior do Estado, não revelados ou divulgados. Por diversos fatores, e entre os principais é o envolvimento de pessoas que possuem forte poder aquisitivo, influências políticas, e ou o envolvimento de algumas autoridades e poderes, e em alguns casos, em específico, na atuação da prostituição infantil.

Por outro lado, se pensarmos que na Capital já tenha alguma falha ou muitos equívocos quanto a boa gestão do Estado das Delegacias das Mulheres, no interior ainda padecemos de ter mais Delegacias especializadas para as mulheres. Da mesma forma, de que padecemos de não termos no Estado do  Espírito Santo, um departamento específico da mulher.

Eu espero poder, me aprofundar mais neste debate da violência contra mulher, mas certo eu, sou para além deste tema, contra toda e qualquer violência. Seja contra a mulher, seja pelo abuso de poder e autoridade de muitos policiais militares, seja contra a criança, sou contra toda ação de violência. Mas em especial, gostaria de parabenizar o Centro de Comunicação Popular Olho da Rua e ao Cineclube Olho da Rua pelo Seminário proposto, pelos temas abordados. É nestas ações aliado ao cineclubismo que eu acredito, pois mesmo não achando que a cultura será a salvação suprema, é através do desenvolvimento cultural, de uma nova formação cultural, que eu acredito, poderemos mudar muitas coisas em nosso Estado e País. A cultura é um pilar central e um caldo para diversas mudanças de comportamentos e na formação de nossas gerações. Promova o Estado o acesso a cultura sem achar que cultura é um mero entretenimento, o acesso a formação cultura sem achar que o Espírito Santo é só muqueca capixaba, a democratização do acesso e a descentralização do fomento aos incentivos financeiros à cultura, levando para as mais extremas regiões o desenvolvimento cultural.

Eu acredito que o cineclubismo pode ricamente contribuir para a formação de um novo olhar diante as nossas realidades, por seu potencial de fomento do debate, pela riqueza do diálogo que o cineclube promove. Isto é o que mais me comove e me provoca a atuar no cineclubismo.

E quando, eu penso em desanimar, ou estou desanimado em militar ou mesmo chateado com os embates políticos do movimento. Eu me jogo por ai, a visitar os cineclubes, conhecer as suas realidades. E quando me deparo com ações como as que eu encontrei durantes estes dias, diante de uma efervescência cultural, eu renovo as minhas forças, a minha fé, e retorno ao mais profundo do meu coração, eu preciso continuar acreditando que podemos fazer algo e muito mais, pela força de nosso movimento, e diante de tantos impactos sociais e audiovisuais, acredito que já não somos apenas um movimento social inerente ao audiovisual, mas que somos um movimento político que através do audiovisual, podemos elencar e formar pessoas para as tantas lutas e batalhas para um mundo e uma sociedade melhor.

Não há muito tempo, eu ouvi de um jovem morador de uma favela no interior do Estado o seguinte comentário: _ Rapaz, está vendo estes barracos de madeira vazios, era famílias que ganharam do Governo uma casa nova, ditas casas populares. Eu não ganhei porque moro só. No entanto quando é chegada à época das eleições, eu sou lembrado assim como estes que aqui moravam. Agora pense comigo, o Estado só chega aqui em nossa comunidade através da Polícia Militar para bater, eu cresço e moro aqui, mas não tenho oportunidade emprego porque moro na favela, não tenho oportunidade educação, não acesso as oportunidades. O que você acha que eu vou ser? Sou tratado como um animal pela sociedade. Então, acha que vou ser um dia algum Estudante, algum Médico, algum doutor. Jamais! Porém, todos nós que moramos aqui, sonhamos e temos esperança, mas a nossa esperança é exterminada pelo sistema.

“Por uma cultura de paz...”
“Por um diálogo entre os homens e as mulheres com a vida”.
“Pelo respeito ao ser humano, pela humanidade social,  e contra as injustiças.”
“Acreditando no cineclubismo capixaba.”
Por Luciano Guimarães de Freitas.
Cineclubista, Poeta, Produtor Cultural.
Titular Representante da Região Noroeste na Comissão Organizadora do Plano Estadual de Cultura.
Produtor do Projeto Olhares – Perspectiva para o Desenvolvimento.


Vitória - ES, 03 de dezembro de 2012.

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